POLÍTICA

Flávio Paradella: os novos 100 dias de Dário

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/PMC
Dário cumpre parte do plano anunciado para o início do segundo mandato, mas esbarra em licitações, culpa chuvas e indefinições.
Dário cumpre parte do plano anunciado para o início do segundo mandato, mas esbarra em licitações, culpa chuvas e indefinições.

Os 100 primeiros dias do segundo mandato de Dário Saadi (Republicanos) foram marcados por entregas pontuais, promessas em andamento e alguns compromissos que continuam apenas no papel. Do pacote de 81 ações anunciadas em janeiro, cerca de um terço foi concluído — o que não surpreende para quem acompanha a rotina da máquina pública, onde atrasos em licitações, mudanças de cronograma e intempéries climáticas são desculpas recorrentes.

  • Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.

Apesar disso, a gestão tenta fazer barulho com algumas vitórias simbólicas, como a publicação da consulta pública para o edital da nova licitação do transporte coletivo — ainda não é o edital definitivo — e a entrega de unidades escolares com reformas finalizadas além do previsto. Na saúde, destaca-se a ampliação da telemedicina e a entrega de um novo aparelho de Raio-X no Mário Gattinho, marcada para esta quinta-feira.

Mas há pontos sensíveis que ainda preocupam. A prometida e já eterna reforma do Mercado Municipal, por exemplo, segue sem previsão de término, evidenciando mais uma vez a dificuldade da Prefeitura em tocar obras estruturais dentro do prazo. Isso vale para o Terminal BRT Ouro Verde, cuja operação completa depende da conclusão dos banheiros — atrasada, agora, pelas chuvas, segundo a Emdec. São detalhes que, embora pareçam menores, revelam uma certa fragilidade de gestão em obras urbanas. BRT é obra prometida para ser entregue ainda no governo Jonas Donizette.

O caso do programa antirracista na rede municipal de ensino é emblemático: o plano está pronto, a capacitação começou, mas a apresentação oficial foi adiada por motivos indefinidos. A dúvida que fica é se a falta de ousadia e clareza para lançar o programa vem de fora ou de dentro da própria istração. Em tempos de polarização, evitar ruídos virou estratégia.

Outro ponto curioso é o uso do jargão do "está em andamento" — uma válvula de escape para adiar sem descumprir. Amparado por isso, o governo evita itir fracassos. Mas o eleitor, especialmente quem depende de transporte, saúde e educação pública, sente na pele quando o compromisso não vira entrega concreta.

O fato é que Dário não começou o novo mandato com tropeços evidentes, mas tampouco empolgou. O governo evita desgastes desnecessários, cumpre o que pode, segura onde for necessário e aposta no tempo como aliado. A avaliação de 100 dias é razoável, mas fica o aviso: o capital político da reeleição não dura para sempre. É hora de acelerar, porque promessas de começo de mandato podem virar frustrações rapidamente.

Nova secretaria

As engrenagens políticas da gestão Dário Saadi costuram, nos bastidores, a criação da Secretaria da Mulher, em mais um movimento para acomodar aliados no alto escalão e ampliar sua base de sustentação. A nova pasta seria desmembrada da atual Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social, que hoje abriga, entre outras atribuições, a política para mulheres.

A ideia é dar forma institucional a uma demanda legítima — fortalecer as ações voltadas ao público feminino —, mas sem perder a oportunidade de agradar um dos partidos mais influentes do atual cenário local, o PL, que cresce e tem cinco cadeiras no legislativo municipal.

O movimento está sendo conduzido com o aval e envolvimento direto da Secretaria Estadual da Mulher, hoje sob comando de Valéria Bolsonaro, nome do PL e aliada do governador Tarcísio de Freitas. A participação da cúpula da legenda estadual sinaliza que a negociação não se limita a interesses locais, mas também atende ao plano de fortalecimento regional da sigla.

Por ora, não há definição de quem ocupará a eventual nova secretaria. A vereadora Débora Palermo, por exemplo, é entusiasta da proposta, mas não aparece como nome cotado, pelo menos não oficialmente. A escolha deve seguir a lógica partidária, mas também ará pelo crivo de Dário, que busca reforçar o equilíbrio entre pragmatismo político e apelo institucional.

Essa articulação caminha paralelamente à manobra já em curso para desvincular a presidência da Cohab da Secretaria de Habitação, o que deve gerar mais uma cadeira na istração. O nome mais citado para ocupar um desses espaços é Luiz Cirilo (Podemos), outro aliado que espera desde o início do segundo mandato por um lugar no primeiro escalão. Ou seja, o xadrez político se intensifica e mostra um governo que, mesmo em cenário de estabilidade, segue ativo na busca por apoio e fidelidade.

No fundo, a criação da Secretaria da Mulher, se confirmada, será mais um episódio em que governabilidade e ocupação de espaços andam lado a lado. E embora venha com a roupagem de fortalecimento de políticas públicas, o pano de fundo continua sendo o mesmo: equilibrar as forças que sustentam o poder.

Vai ar

E lá vamos nós de novo. Após a tentativa frustrada de aprovar o reajuste em regime de urgência no início do ano, o governo Dário Saadi (Republicanos) recuou, respirou fundo e ou a cumprir o rito formal do Legislativo. Mas o desfecho, salvo terremoto político, é previsível: o projeto vai ar.

A Comissão de Constituição e Legalidade da Câmara deu parecer favorável ao aumento dos salários dos presidentes das autarquias municipais – Setec, Rede Mário Gatti, Fundação José Pedro de Oliveira e Camprev  – para R$ 37.082,36, com efeito retroativo a janeiro. Agora, o projeto segue para o plenário, onde a votação final deverá reacender os discursos inflados, mas sem alterar o curso da matéria.

O Executivo optou por uma estratégia menos ruidosa desta vez. A urgência deu lugar à tramitação ordinária, uma tentativa de reduzir o desgaste público e evitar novo enfrentamento com a oposição e até com setores da base, que se sentiram pressionados na primeira tentativa.

A cruzada de Amparo

Nesta quinta-feira, às 20h, o FPX Cast, podcast apresentado por este colunista, recebe Carlos Alberto Martins (MDB), prefeito reeleito da cidade que é a capital do Circuito das Águas. Ele vai falar sobre os 100 dias do novo mandato, os planos para o turismo regional e a luta contra a implantação de pedágios nas estradas de o à região. Acompanhe em no canal FPX Cast no Youtube, em youtube.com/@fpxcast.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].

Comentários

Comentários