15 de junho de 2025
POLÍTICA

Flavio Paradella: O secretário Luiz Henrique Cirilo l1o3m

Por Flávio Paradella |Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/CMC
Após cinco mandatos na Câmara, Cirilo migra para o Executivo e confirma o acordo político entre Republicanos e Podemos. A manobra garante mais força à base.

A nomeação do vereador Luiz Cirilo (Podemos) para a Secretaria Municipal de Habitação de Campinas oficializa uma movimentação política que vinha sendo cantada desde o final das eleições de 2024. Trata-se menos de uma surpresa e mais da conclusão de um compromisso firmado entre o grupo de Dário Saadi (Republicanos) e o Podemos, que agora se consolida como uma das forças mais relevantes na composição do Executivo municipal. 43g2l

Cirilo, nome tradicional do Legislativo campineiro, inicia um novo ciclo no Executivo, após cinco mandatos consecutivos na Câmara. Ele chega com o objetivo de dar novo fôlego à pauta habitacional, marcada por desafios históricos como regularização fundiária, projetos de moradia popular e reestruturação da Cohab, que seguirá sob comando de Arly de Lara Romeu, agora exclusivamente na presidência da companhia.

A separação entre a Cohab e a Secretaria foi, dessa vez, habilmente construída por meio de projeto de lei complementar, aprovado recentemente pela Câmara Municipal. Na prática, a manobra abriu mais um cargo no alto escalão para abrigar aliados, e usa um modelo similar das estruturas da Saúde (com a Rede Mário Gatti) e Transportes (com a Emdec). A medida dá margem para uma gestão mais técnica e focada — ou, ao menos, é esse o discurso oficial.

A chegada de Cirilo também representa um reforço institucional ao Podemos, partido que emergiu das eleições com três cadeiras no Legislativo e já ocupava a Secretaria do Clima, com Adegas Jr. Agora, com dois nomes no secretariado, o Podemos se firma como uma das principais âncoras da base de Dário Saadi, ao lado de Republicanos, PSD e PSB.

Com a saída de Cirilo da Câmara, assume a cadeira o suplente Gilberto Leão de Araújo, o Mineiro do Espetinho, que teve 4.441 votos. A mudança altera minimamente o equilíbrio interno da base, mas reforça a tendência de recomposição e fidelização de apoios políticos para a reta final da gestão, especialmente com as pautas impopulares em curso, como os reajustes salariais no alto escalão.

Em resumo, a posse de Cirilo não é apenas uma troca de cargos. É uma peça importante no tabuleiro político da cidade, com foco em estabilidade na base e reconfiguração estratégica de forças.

Mineiro do Espetinho toma posse 3i5u29

Com trajetória marcada pelo empreendedorismo e raízes no Distrito do Ouro Verde, Gilberto Leão de Araújo, o Mineiro do Espetinho, é o novo vereador de Campinas e deve assumir o cargo nesta quarta. Primeiro suplente do Podemos, ele entra na vaga deixada por Luiz Cirilo, que a a comandar a Secretaria Municipal de Habitação.

Mineiro do Espetinho tem 54 anos e foi eleito com 4.441 votos nas eleições de 2024, ficando como suplente imediato do partido. Conhecido por comandar duas lojas de espetinhos que levam seu apelido, ele é uma figura conhecida, especialmente no Ouro Verde, onde mora desde 1978.

Empresário e católico, Mineiro chega à Câmara com discurso de “trabalho, fé e dedicação” e promete usar sua vivência nos bairros e no comércio para defender pautas ligadas à geração de empregos, valorização das periferias e apoio ao empreendedorismo popular.

Cargos, cargos e mais cargos 4e433o

Mais uma vez, a sanha da Câmara de Campinas em ampliar a estrutura de cargos comissionados se transforma num problema jurídico e político de grandes proporções. O inquérito civil aberto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo para investigar o contrato de R$ 2,25 milhões com a Fundação Instituto de istração (FIA) expõe a pressa dos vereadores em reeditar uma fórmula já desgastada: aumentar o número de assessores nos gabinetes e fortalecer o poder da Presidência da Casa — ainda que, para isso, pisem numa casca de banana colocada por eles mesmos.

O ponto central da apuração é a dispensa de licitação e a escolha da FIA, que apresentou proposta R$ 960 mil mais cara do que outra instituição, além da antecipação de 30% do valor sem justificativa clara, segundo a denúncia. Para o MP, a operação levanta suspeitas de direcionamento e eventual improbidade.  A Câmara nega.

Mas o que realmente chama a atenção é o conteúdo do projeto encomendado pela própria Câmara, cuja suspeita de bastidor é clara: ampliar os cargos de livre nomeação nos gabinetes, retomando um formato já condenado anteriormente. A farra só aumenta.

Esse movimento é sintomático. Desde a última década, a Câmara campineira foi alvo de sucessivas ações do Ministério Público questionando o excesso e a estrutura dos comissionados, o que resultou em cortes e reestruturações para garantir proporcionalidade e respeito ao concurso público. Ainda assim, os parlamentares seguem tentando burlar o limite, criando “atalhos técnicos” com roupagem de reestruturação istrativa.

O discurso oficial tenta justificar a medida com modernização e eficiência, e a contratação da FIA é usada como escudo. Mas, nos bastidores, a real motivação parece ser a mesma de sempre: mais cargos para distribuir e acomodar interesses políticos, com impacto direto sobre servidores efetivos, que podem perder atribuições ou espaço de atuação.

A tentativa de mostrar que o processo foi transparente e respaldado não esconde a essência do problema: o Legislativo gerou um problema jurídico por buscar uma saída institucional para um desejo político — inflar sua própria estrutura. O histórico da Câmara, com casos semelhantes, não ajuda a conter a percepção de que há uma reincidência camuflada de decisões já condenadas pela Justiça.