NOSSA LETRAS

Entre ciclos, amor próprio

Por Ariel Bruna | Especial para o GCN/Sampi
| Tempo de leitura: 4 min

Em “preto e branco e poético” vamos falar de plantas, pessoas, cabelo e beleza, mas também de comportamento, dramas da vida diária e superações, vamos falar de trilhos e trilhas, autoconhecimento e amor próprio, vamos falar de quase tudo que nos convém. O que uma planta no vaso tem a ver com cabelo saudável? Eu te conto, vamos conversar?

Nosso cabelo carrega o tempo e o ado. Tudo em nossas vidas são momentos, quando encerramos ciclos precisamos seguir alguns os para que outro ciclo se inicie. Também a planta no vaso, temos que nutrir a terra assim como nossos cabelos, para fortalecer bulbos que nascem. Observe bem o que precisa ser podado ou cortado neste novo ciclo. Muitas coisas vêm conosco, outras servirão de aprendizado mas não vão permanecer. Lembre-se que na jornada seguinte, se você levar o que não precisa, seu novo ciclo pode mirrar e secar, como pontas duplas nos fios e atrasar o crescimento. Corte o dano pela raiz, e sem dó, o que tem que ficar no ado. Por último, regue com frequência sua planta, a hidratação regular faz com que tudo que você usou para nutrir seus cabelos se expanda e fixe nos bulbos o resultado: você cresce lindamente. Mas se você sente que sua vida saiu dos trilhos, agradeça.

Eu te afirmo com toda certeza que existe uma certa liberdade em estar perdido. Existe uma certa liberdade em chegar ao fundo do poço, perder certas coisas, chorar e ficar triste. Isso significa que todas as coisas que te prendiam antes não te prendem mais. Entretanto, você ficou tão agarrada nesta prisão que não quer sair mais. Olhe, pássaros criados em gaiolas pensam que voar é doença. Você não tem nada a perder, dê o primeiro o sem medo de cair e o próximo sem medo de sofrer. E criará aos poucos a sensação de prazer em estar “perdida na direção certa”. E estar perdida na direção certa te levará a lugares incríveis que jamais, com medo, iria. Se isso já aconteceu com você me diz, a sensação é boa, não é?! Se ainda não aconteceu, não espere sentada e saia da zona de conforto.

Aprenda uma lição: na vida, todos a seu redor estão formando um espaço para você ser transformada, mesmo aqueles que pensam estar ferindo você, ou quem esteja te apoiando. Circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis, conquistas ou perdas, amor ou ódio, amizade ou falsidade, lealdade ou traição, tudo isso está criando um contexto para que você possa se transformar, reencontrar-se, aprender e amadurecer. E quando finalmente você entender que na sua vida tudo é lição e aprendizado, amadurecerá o suficiente para ser grata por aqueles que a ajudaram no percurso e aos que dificultaram também. Não tenha medo de viver: viver não é restringir ou poupar, é sentir.

Se toque, ninguém vai (ou poderá) te amar como você mesma. O que eu mais escuto quando termino uma produção, seja corte ou tintura, é: “há quanto tempo eu nem me olhava no espelho, não me enxergava mais”. Ficamos ocupadas com tantos afazeres que caímos na rotina de nos anular. A questão é que priorizamos tudo: família, amigos, trabalho (claro que são importantes, sim!) mas a ideia que criamos é que nos colocar em primeiro lugar é egoísmo. Temos muitos exemplos que nos ensinam os caminhos para a felicidade, e um deles inclusive está na bíblia: ame o teu próximo como a ti mesmo. Portanto, se você não se olha, não examina a si mesma, não trabalha sua confiança e autoconhecimento, o que você está entregando para o seu próximo? O que pode dar é o que tem. Dedicar-se a algo ou alguém, a ponto de se anular, gera exaustão no fim de seus esforços. Você se fragiliza em nível de não reencontrar o caminho de volta.

Acredite, já me senti orgulhosa em dizer que estava exausta mas feliz por conseguir fazer tudo. Eu repetia isso para mim e acreditava que todo esse descuido com minha saúde e autoestima era por um “bem maior”. Um dia você descobre que o muito que faz jamais será suficiente, a tentativa exaustiva de agradar se tona o maior fardo que possa carregar. A pandemia de covid-19 me trouxe o desafio, ou oportunidade, de PARAR e eu consegui me olhar no espelho. A imagem que vi refletida foi aterrorizante, eu não queria aceitar o que via e a pessoa que me tornei. Enxerguei meus demônios, a pior parte que tinha ali dentro.

E foi ali, naquele momento, que me abracei, abracei tudo aquilo que eu escondia com a rotina. Chorei, me entristeci, e no fim encontrei meu caminho através do amor. Abraçar tudo aquilo que fazia parte de mim fez com que um amor gigantesco nascesse dentro, um tipo de amor que eu já não imaginava, amor que mudaria minha vida para sempre: O AMOR PRÓPRIO - ele tinha se perdido por um tempo, mas nos reencontramos na jornada.

Ariel Bruna é colorista profissional, proprietária do espaço de beleza @arieldouradohair e escreve diariamente na página @pretoebrancoépoetico. É mãe da Sophia e do João Lucas. Uma mulher com medos bobos e coragens absurdas.

 

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