Maetê querida, faz cinco meses e pouco que a conheço. Fiquei sabendo que você viria em dezembro de 2024, no Festival da Casa da Fonte, quando sua irmã, no alto dos seis anos dela, dengosa, insistiu em uma vaga no projeto. Achei o máximo aquele pingo de gente, toda sorriso, não pedir que alguém solicitasse por ela. Chegou decidida e disse, do que vira na apresentação, que queria aprender. Ela que me contou, com muito orgulho, que você estava na barriga da mamãe. Teria uma irmã. Achei tudo o máximo. É desses encantos que não têm preço. De repente, as estrelas se acendem na alma da gente.
Sua tia, Ana, conheço há mais tempo. Desde que cheguei no Jardim Novo Horizonte, a convite da Companhia Saneamento Jundiaí – CSJ, para a Casa da Fonte. Faz parte dos abraços que sempre me incentivaram. Espero que você carregue o sorriso dela. Suas primas também são muito meigas. Ao conhecer sua mãe, percebi-a de uma doçura rara no mundo.
Amei o seu nome: “Maitê”. Esse nome tem várias origens e significados. No idioma basco, de ‘maitea’, que significa ‘amado’. Você se tornou minha amadinha. Seu nome frequentemente é associado à delicadeza, amor e força de caráter. E será assim. Várias pessoas, conhecidas minhas, souberam de você também estavam à sua espera. Houve quem lhe enviou roupinhas de presente.
Em todos os dias da semana, a Vitória Lorena me contava um pouco de você na barriga da mamãe com os olhos cheios de brilho. Às vezes tentava entrar na imaginação dela e ver as duas brincando de roda e cantando: “Se essa rua/ Se essa rua fosse minha/ Eu mandava/ Eu mandava ladrilhar/ Com pedrinhas/ Com pedrinhas de brilhantes/ Para o meu/ Para o meu amor ar./ Nessa rua/ Nessa rua tem um bosque/ Que se chama/ Que se chama solidão/ Dentro dele/Dentro dele mora um anjo/ Que roubou/ Que roubou meu coração/ Se eu roubei/ Se eu roubei teu coração/ É porque/ É porque te quero bem. /Se eu roubei/ Se eu roubei teu coração/ É porque/ Tu roubaste o meu também”.
A Lorena Vitória gosta muito de dançar, brincar de casinha, lutar judô. Vamos ver você de que gostará.
O dia em que você nasceu, sua tia me avisou à noite. Era um dia cinza e embora não goste de dias assim, tive a sensação de que a Primavera desabrochava. Botão de rosa despertando para o mundo. Um mês tão lindo! Mês do “Dia das Mães”. Para a Igreja, onde professo minha fé, é dedicado a Maria, Mãe de Jesus. Ela possui vários títulos, dentre eles “Nossa Senhora Divina Pastora”, também conhecida como “Mãe do Bom Pastor”. Há um hino a respeito dela que diz assim: “Vinde, Estrela, luz dos mares, / Vinde trazer-nos a paz/ E fazei que nossos os/ Não se afastem da verdade”. Ela cuida das ovelhinhas pequeninas de Jesus como você. Na incubadora, sem dúvida Nossa Senhora, Divina Pastora, com voz de céu, sussurra cantigas de ninar para você.
Tenho pedido a ela que lhe dê muitas forças para continuar a luta para sobreviver – você já é uma pequena guerreira -, até que chegue a data da cirurgia que lhe oferecerá uma válvula para o coração.
Quando for o tempo – e o tempo é de Deus -, desejo abraçá-la com muito carinho.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista ([email protected])