
A médica Daiane Copercini, autora da denúncia que deu origem à Comissão Processante contra o vereador Vini Oliveira (Cidadania), afirmou em depoimento nesta quinta-feira (12) que o parlamentar violou protocolos internos, ou fichas médicas de pacientes e a expôs em vídeo publicado nas redes sociais. Ela foi a primeira testemunha de acusação ouvida pela na Câmara de Campinas.
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“Ele ou prontuários, ou fichas médicas, que é contra a Lei Geral de Produção de Dados e a quebra do sigilo médico. Então, isso é totalmente inaceitável”, afirmou a médica ao relatar os acontecimentos no plantão de 1º de janeiro no Hospital Mário Gatti. Segundo ela, a entrada do vereador foi feita sem autorização e acompanhada de pessoas que gravavam imagens, inclusive sem máscara.
A denunciante disse que se sentiu surpresa ao retornar do horário de jantar e encontrar a movimentação. “Quando eu cheguei para retomar os atendimentos, eu fiquei bastante surpresa com aquela movimentação e, mais surpresa ainda, quando eu vi que ele era um vereador”, afirmou. Ela conta que Vini se identificou exigindo respeito: “Ele responde: ‘eu sou o vereador Vini. Me respeite, porque eu sou a autoridade aqui’. Eu falo: ‘olha, o senhor é a autoridade lá na Câmara, mas aqui o senhor respeita o meu plantão e o meu trabalho’”.
A médica afirmou que o vereador não procurou diálogo com a equipe sobre falhas do sistema de saúde. “Em nenhum momento... ele não foi conversar com a equipe, com os trabalhadores, perguntando quais eram as ineficiências, o que precisaria ser melhorado. Não foi na farmácia ver o que estava faltando de medicação. Só instigou a população a entrar em combate contra os médicos e contra toda a equipe”.
Sobre a abordagem direta, Daiane relatou: “Eu fui abordada quando eu retornava para a sala. E aí, eu perguntei se ele estava me gravando, porque eu ia me manifestar que eu não queria que ele me gravasse. Mas ele respondeu: ‘sim, eu estou’... E, ainda assim, ele manteve a gravação com a minha voz”. Questionada se o parlamentar usou palavras ofensivas, respondeu: “Ele foi bastante combativo, hostil, agressivo. Não que ele tenha me xingado ou me deferido palavras de baixo calão, mas só o fato de ele estar ali exigindo respeito porque ele era autoridade e sendo agressivo na abordagem já foi bastante conflituoso”.
Ela também disse que se sentiu emocionalmente abalada com o episódio: “Sim, até porque eu já vinha de um plantão que, apesar de estar tranquilo, é cansativo... Então, estar naquela condição, naquele combate... ele veio com tudo”.
Daiane relatou que o vídeo postado por Vini a associava à prática de estelionato. “No vídeo que ele postou, ele me associa a estelionato, que quem está no serviço e não está trabalhando é estelionatário. Mas ele viu e ele sabe que eu estava atendendo”.
A médica confirmou que registrou boletim de ocorrência e move ação cível e criminal contra o vereador. “Tive, sim, ameaças no Instagram, mas optei por não fechar a minha conta... Eu só estou me defendendo e procurando a justiça para que a gente tenha paz para exercer o nosso trabalho”.
Ao final do depoimento, questionada se houve algum benefício real para o serviço público após o episódio, Daiane foi enfática: “Eu não vejo que teve melhora nenhuma. Acho que, pelo contrário, piorou muito, porque as pessoas estão mais corajosas de serem desrespeitosas com quem está lá na linha de frente”.
A Comissão Processante tem prazo até 3 de agosto para concluir seus trabalhos. Além da presidente Mariana Conti (PSOL), integram a o relator Nelson Hossri (PSD) e o vereador Nick Schneider (PL). O vereador Vini Oliveira será ouvido no dia 17 de junho, data marcada para as oitivas de defesa.
Posicionamento do vereador Vini Oliveira
"Em relação as oitivas realizadas no dia de ontem, posso afirmar que os depoimentos apenas confirmaram aquilo que eu já sabia com plena convicção: em nenhum momento cometi qualquer tipo de irregularidade, arbitrariedade, quebra de decoro ou qualquer outra conduta que pudesse justificar a cassação do meu mandato.
Foram colhidos quatro depoimentos: o da denunciante, de uma enfermeira, do médico chefe do plantão no dia dos fato, e de um quarto depoente. Ficou claro e transparente, especialmente no depoimento do médico chefe do plantão, que em momento algum fui agressivo ou desrespeitoso com os funcionários. Também ficou evidente que, em nenhuma circunstância, “invadi” ou abri portas de consultórios sem autorização, tampouco ei dados sensíveis.
Ademais, tanto eu quanto os próprios membros da Comissão ficamos surpresos e constrangidos com a presença de uma quarta testemunha “aleatória”, cuja participação foi, no mínimo, questionável. Trata-se de alguém com histórico de perseguição à Casa Legislativa Campineira, autor de denúncias infundadas contra outros vereadores. Para a surpresa de todos, essa testemunha afirmou taxativamente que me viu apenas uma única vez na vida, não estava presente no dia dos fatos e recusou-se a responder todas as perguntas formuladas por meu advogado.
Diante desses acontecimentos, reafirmo aqui minha plena confiança na verdade, na isenção, imparcialidade e lisura dos meus nobres colegas, bem como na Justiça".